Quando pequena já tinha uns apagões de memória. Lembro-me de uma vez estar no meio da rua, com uns 9 anos, em Taquaritinga e pensar: O que estou fazendo aqui? Voltar para casa e minha mãe me perguntar: Trouxe os tomates? Aí sair correndo para comprá-los. Por isso minha estória é feita de fragmentos de memória. Lembro-me de alguns fatos. Aí vão eles:
Casei-me aos 16 anos. Meu marido tinha 19. Éramos colegiais. Fiquei grávida na minha primeira relação, aos 15 anos. Por dois meses escondi a gravidez de todos. Sentia muito medo. Ao mesmo tempo uma total determinação de ter o bebê. Meu marido, namorado, naquele momento, me apoiou. Nós nos amávamos. Não trabalhávamos. Vivíamos, como a maioria dos adolescentes de classe média, de mesada. Um dia, meu namorado e eu decidimos conversar com meus pais. Ele pediu minha mão em casamento. Meus pais ficaram muito contentes, porque ele era um bom rapaz. Meu pai disse: Ótimo, se vocês se amam, podem se casar, daqui a alguns anos. Meu namorado respondeu: Temos que nos casar imediatamente. Aí o clima mudou, ficou tenso. Enfim contamos que eu estava grávida de dois meses. Meus pais ficaram chocados. Como estávamos determinados a nos casarmos, tudo foi arranjado e nos casamos o mais breve possível. Fomos morar com os pais do meu marido. Ele parou de estudar e começou a trabalhar como fotógrafo numa revista. Eu continuei os estudos por mais um ano. Não foi fácil adaptar-me naquela nova família. Lembro-me que não tínhamos o dinheiro para os gastos com o parto. Nasceu minha filha. Tudo era muito complicado e difícil para nós. Aos poucos as coisas foram ficando um pouco mais confortáveis. Meu marido começou a trabalhar em publicidade e ganhar melhor e eu fui estudar dança, como era meu sonho. Minha professora era Maria Duschenes. A primeira escola que minha filha frequentou foi a Quá-Quá. Era uma escola muito considerada, onde os intelectuais punham seus filhos. Mesmo assim, eu queria conhecer de perto a escola e comecei a dar aulas de expressão corporal nela. Minha filha estudou, se minha memória não estiver falhando, dos 3 aos 5 anos lá. Depois eu tive uma discussão com a diretora, saí e tirei minha filha. Quando ela tinha 2 anos, engravidei de novo, desta vez, por que decidimos ter outro filho. Aos 20 anos tinha uma filha de 3 anos e um bebê-menino. Conto a estória, não se esqueçam, como me lembro. Pode ter acontecido de forma diferente. Escolhi a escola Juca Peralta, para dar aulas de dança educativa. Dava aulas para todas as classes. E coloquei meus filhos para estudarem lá. Minha filha com 5 e meu filho com2. Ao mesmo tempo eles estudavam dança numa escola de Laban para crianças. Tinham bolsa de estudo. Depois foram para a escola Vera Cruz, onde estudavam os filhos do Herzog. Ambos fizeram o primário e ginásio lá. Meu filho fez o curso de teatro com o grupo do Naum, Pode Minoga. E no Vera começou a estudar cinema com Cao Hamburer. Bem, quando minha filha completou 5 anos e meu filho 2, eu e meu marido nos divorciamos. Agora, tinha 23 anos, dois filhos, era divorciada e ganhava pouco como professora. Meus filhos ficaram morando comigo. Meu ex-marido me dava uma pensão e meus pais também ajudavam. Foi uma fase muito tumultuada que durou uns 5 anos. Casei-me novamente e tive meu terceiro filho. Uma filha de 10, um filho do meio de 7 e um bebê. Morávamos todos juntos. 2 anos depois me separei do segundo marido. Divorciada pela segunda vez, com 3 filhos e ganhando pouco como professora e dançarina. Aí vem o apagão de memória. Não me lembro quando me separei dos meus filhos. Se foi quando me separei pela segunda vez ou se quando no ano seguinte, quando sofri o grava acidente de carro, onde quebrei a coluna, fiquei um ano sem andar e com uma sequela permanente. Pé caído. Minha filha foi morar com meus pais. Meu filho do meio com os avós paternos e meu filho caçula morava um pouco com o pai e outro tanto comigo e meu terceiro marido. Lembrei-me: Quando me separei pela segunda vez, coloquei 1 quarto para alugar e ajudar com as despesas. Meus 2 filhos mais velhos dormiam juntos e o caçula foi morar com o pai. No ano seguinte sofri o acidente e meus filhos foram morar com os avós, como já contei. Tinha 29 anos, uma filha de 12, um filhpo de 9 e outro de 2, que estava comigo no acidente, mas felizmente não se machucou. Ele, o caçula, estudou na Escola da Vila e depois numa escola pública. Depois de um ano, recomecei a andar, mas não reconquistei o convívio com meus dois filhos mais velhos. Ficou subentendido que estariam melhor com os avós. Eu fazia aulas de Tai-Chi-Chuan, o dia inteiro, na tentativa de recuperar meus movimentos. com o estímulo de Maria Duschenes, voltei a dançar. Aluguei 3 quartos, a casa era grande e passei a morar com meu namorado, futuro terceiro marido. A garagem já tinha sido transformada pelo segundo marido numa sala de dança, que eu chamava de escola Isadora Duncan. Em 82 recebi o Conhecimento de Prem Rawat. Comecei a me dedicar muito a Cultura da Paz e a dança. Em 87, meu filho caçula veio morar comigo e voltou a morar como pai em 95, quando me separei do terceiro marido. Em 89 ou 90, meus filhos mais velhos foram morar juntos, num apartamento alugado. Depois se separaram e cada um foi morar sozinho. Atualmente os 3 são casados. Tenho 4 netos, até agora. Minha relação com meus filhos foi truncada muitas vezes e faço um grande esforço para recuperá-la, embora entenda que o que passou, os momentos que não estive com eles, as passagens que perdi, não podem ser recuperadas. Posso imaginar como minha ausência marcou suas vidas, pois sei como os acontecimentos da infância influenciam na formação do ser adulto. Sei também que não posso refazer o passado. Espero que meu amor seja tão grande que possa nos proporcionar dias felizes, no tempo presente. Sinto que sou amada pelos meus filhos, apesar de sentirem uma mágoa pelo abandono. Que esse amor correspondido supere todas as mágoas do passado. Temos que aproveitar o tempo e compensar o tempo perdido. Não temos tempo a perder. Vivamos o presente plenamente! O presente é o que temos. O passado não pode ser mexido. No presente podemos tudo. O futuro a deus pertence. Aqui e agora. Este é o momento para nos relacionarmos.
Filhos: EU AMO VOCÊS!!!
18 de abril de 2012
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