16 de abril de 2012

Maria Duschenes - A Pedagogia do Elogio

Quando conheci Maria duschenes, aos quinze anos de idade, eu já amava a dança. Tinha um vocabulário pobre de movimento, pouco conhecimento e um sentimento de ser insignificante, um quase nada vindo de longe e que não chegaria muito longe. D. Maria, como era chamada por seus alunos, tinha uma pedagogia do elogio. Sabia extrair de mim o que estava lá no fundo, mergulhado na escuridão. " Muito bem. Ótimo Isso foi genial. Sinta. Sinta o movimento". As vezes não dizia nada. Punha uma música muito louca, diferente detudo o que eu conhecia e mostrava algum movimento. Explicava a teoria de Laban. Pelo que ela dizia ele deveria ter sido um artista extraordinário. Ela falava dele com paixão. E a paixão começava a tomar forma em mim. A vontade de crescer, de dançar de uma maneira única, de brilhar, de conhecer tudo o que existisse na arte do movimento. Todas as danças, músicas, pinturas, poemas. Todas as expressões artísticas. Como eu precisava me expressar. Sair do limbo, perder o medo, buscar a luz. Não queria passar a vida em branco. Queria dar-lhe cor, textura, ritmo, sentimento e significado. Os gestos. era louca pelos gestos. Gestos de pernas, de tronco, de pescoço, de braços e mãos. A pequena sala de aula, em sua casa era um verdadeiro Oasis de cultura e arte. A disciplina era exemplar. Ela não precisava exigir nada. Uma sugestão sua, soava como um enorme e fascinante desafio. Chegávamos antes da hora para estarmos aquecidos quando ela entrasse na classe. " Este foi muito bom". Olhávamos para quem ela estava elogiando e logo fazíamos tudo para conseguir o mesmo resultado. Mas, como ela sempre enfatizava, do nosso jeito pessoal, buscando uma expressão própria. E pouco a pouco fui encontrando meu jeito de dançar. Fui enriquecendo meu vocabulário de movimentos. "Vocês sabem mais do que pensam. Façam outros cursos. Podem fazer dança africana, Martha Graham. Vocês deveriam fazer o curso de férias no Connecticut Dance Festival. Vejam esse quadro de Giacometti. Improvisem. Vejam com o corpo. Sintam o espaço. Sintam os outros". Dançávamos sem perceber o tempo passar, sem sentir cansaço. Quando parávamos é que sentíamos a dor no corpo. Tinha passado por uma transformação, mais uma vez. Tinha saído do corpo e flutuado. Tinha experimentado extase. Tinha matado a fome de sentir prazer. Perdia a noção dos preconceitos. Éramos classificados a partir de nossas tendências de movimento. "Os que tendem  para o nível baixo, começam. Os que gostam mais do nível médio fazem essa sequência. Os do nível alto param. Vocês não precisam usar só os braços. Podem usar o tronco. Podem seguir as mãos". Sim, ela era sem exagero, adorada pelos alunos, que a consideravam uma segunda mãe e as vezes a única Mãe. Quando completamos seis anos ou mais de curso, ela declarou que estávamos formados. Então para não nos afastarmos dela, tornamo-nos seus assistentes. E ficamos ao seu lado até ela ficar idosa, adoecer e parar de trabalhar. Mas sua lembrança continua muito viva. Ela é uma referência para muitos. Será sempre inigualável, insubstituível, amada e adorada. Uma lenda viva. Serei sempre eternamente agradecida a ela. Por seus ensinamentos, por seu conhecimento e por seu amor aos alunos, a dança e a seu professor: Laban.

Um comentário:

Anônimo disse...

INCRíVEL!!!!!!!!