19 de abril de 2012

Professora dos infernos

Tinha 9 ou 10 anos e estava na terceira ou quarta série do primário, em Taquaritinga. Era a primeira ou segunda da classe. disputava o primeiro lugar com minha melhor amiga, a Parê.
Certo dia na aula de matemática, a professora, não me lembro de seu nome ou rosto, aproximou-se de um aluno, também não me lembro do rosto e nome e chamou-lhe a atenção.
Quando olhei para eles vi uma cena que jamais vou esquecer.
Ouvi um grito de dor e vi a professora erguendo o pobre menino pelos cabelos.
Quando ele voltou a sentar-se, ela tinha um punhado dos cabelos dele, nas suas malditas mãos.
Fiquei horrorizada e petrificada.. Como se não bastasse chamou o menino para alousa e fez-lhe um teste, sem aviso prévio. colocou na lousa algo como uma soma de digamos 374+208. Ele não conseguiu realizar a equação. Disse-lhe: Você é um burro. Vamos ver até onde você vai. Colocou uma subtração na lousa. 50-40. Ele não conseguiu. Ela então gritou: vamos ver o quanto você é burro. Perguntou-lhe:
Quanto é 2+2?
O menino visívelmente em estado de choque não pode responder a pergunta.
Eu olhava tudo em silêncio, mas pensava com todas as minhas forças: tomara que ela morra. Eu odeio você. Era uma criança, mas percebi que o menino estava apavorado e não saberia responder nem qual era o seu nome.
Claro que a professora também estava fora de si. Mas isso eu não percebi. Percebi que o menino era pobre e sofria uma grande injustiça e humilhação descomunal. Foi  a primeira vez que presenciava um ato de injustiça. Até hoje me pergunto as consequências deste acontecimento na vida daquele menino.
Terá continuado seus estudos? Para mim ficou evidente que o medo, não é a melhor pedagogia. Eu teria voado no pescoço daquela professora e estrangulado-a com minhas próprias mãos, se tivesse coragem. Mas não tive. Permaneci calada e chorei baixinho e escondido para ela não perceber.
Ficou um grito mudo de revolta e indignação preso na minha garganta. As vezes, a cena me volta á cabeça e me pego chorando de novo.
Por isso valorizo tanto a pedagogia do amor. Do elogio.
É difícil aprender pelo medo. mesmo se aprendemos algo, logo nos esquecemos. O medo nos embrutece. Encolhe-nos. Perdemos a alegria de aprender. O aprendizado torna-se árido. Difícil.
Quando aprendemos alguma coisa através do amor, o aprendizado é para sempre.
Nunca nos esquecemos nem do que aprendemos, nem de quem nos ensinou. Ficamos cheios de entusiasmo, determinados e disciplinados. Naturalmente e sem esforço excessivo. Tudo na medida e no tempo certo. O sentimento é de descoberta, gratidão e coragem.

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