12 de outubro de 2012

solangedoc

Acesse: www.solangedoc.com

Sinopse

Uma declaração de amor à arte, apesar dos riscos que esta escolha traz.
Assim pode ser resumido Solange, primeiro documentário do diretor Pedro Pupo, feito a partir de depoimentos e performances da dançarina labanista que dá nome ao título.
Rua, casa, bueiro, estacionamento, metrô, semáforo, rua.
Todos os lugares são palco para a arte de Solange.
Solange, que faz a dança que seduz, choca, instiga, estranha.
Solange que faz a dança que cura e que a recuperou de um grave acidente de carro.
Solange que faz a dança que agora ganha o mundo, pelo olhar afetivo de seu filho, Pedro Pupo.

"Solange" um documentário de Pedro Pupo








7 de maio de 2012

A Linguagem do Coração
Solange Arruda
Desenhos inéditos de Yoshiya Takaoka

A linguagem do coração

A linguagem do coração

A linguagem do coração é clara: Ela define dois fatos fundamentais: você está vivo e vai morrer.
Estabelece uma prioridade: você quer se sentir bem agora. Ensina que você é só, é livre e pode conhecer o sentimento de gratidão.
A linguagem do coração é interna. É ´preciso cavar profundamente dentro de você para chegar a olhar cara a cara o seu coração.
É preciso estar silencioso o bastante, por tempo suficiente para ouvir o seu coração.
Seu coração tem uma linguagem.
Seu coração quer falar com você.
E quando o seu coração falar com você, seu ser interno dançará. E quando o seu ser interno dançar, o seu externo também dançará.
Você dançará.
Na ciência do amor existem leis que, descobertas, vivenciadas, compreendidas e comprovadas na prática, podem ser úteis e significativas.
Cada dia, cada momento tornar-se útil e significativo.
Como ser humano, criar uma visão única da sua existência.
Penetrar nessa dimensão do amor, onde impera a magia.
Abandonar o caminho conhecido e voar.
É um longo aprendizado. Exige sabedoria e coragem.
É preciso investir.
É preciso vontade.
Acorde.
Pare de dormir e acorde.
Acorde para o fato de que você está vivo.
Hei!
Você está vivo e a vida é muito preciosa.
Você a tem e enquanto você a tiver ela é sua.
Tua vida é tua.
É o teu quadro. O teu momento de pintar. O que quer que você pinte é a tua expressão.
O amor é composto de presença e anseio pela presença.
De encontro e anseio.
E o encontro de duas pessoas que se amam, não acontece porque uma ou outra o deseja, mas quando o desejo de uma e o desejo da outra as atraem sincronicamente.
Este momento é mágico.
É a magia que propicia o encontro dos amantes.
E a magia não conhece limites de tempo, espaço ou dinheiro.
A consciencia da morte, o lembrar-se do fato de que vou morrer, transforma cada segundo de vida, vivo.
Conecta o ser com a vida.
E o querer ser feliz, a cada passo, apesar de todas as dificuldades, de todos os obstáculos, momento a momento, é prioritário.
Não há tempo a perder com os problemas. Cada momento de vida é valioso e não se pode recuperá-lo jamais. Nem um único instante.
É prioridade e privilégio ser consciente do fato de que sou só, sem ser solitário. Você tem o seu lugar.
Você e eu, existimos.
Existe o mar, o vento, o deserto, as estrelas. E existe você também.
Você pode ter o seu tempo.
Não ser escravo do tempo, ser livre.
Você sabe o que é ser livre?
Liberdade além das definições?
E aprender a ansiar. O anseio sem a dor da saudade.
O anseio construindo o encontro. Desejando o encontro.
Anseio aprimorando o amante para o momento mágico e imprevisível do encontro.
Aprender a amar, a sugar a beleza do encontro com o amante, apreciando com sutileza cada pequeno detalhe.
Respirando no ritmo do coração encher a taça de mel e alegria.
A linguagem do coração comunica-se através de imagens em forma de insights e situações incomuns.
O impossível se desmancha; é só questão de ir mais fundo e aguardar.
Não ficar parado no porto a espera de seu navio chegar, mas, quando ele chegar, estar pronto.
Limpar as asas do lodo, da lama das preocupações e do medo.
Esticar a cabeça acima do rio de sofrimento e miséria. Mergulhar denro de si e encontrar o sentimento de gratidão.
Gratidão por tudo o que te foi dado: a vida, o corpo, a terra e a capacidade de apreciar.
Sentir a fonte dentro de si.
Não chorar pela água derramada porque encontrou a fonte de toda a água.
Beber desta água gota a gota e saciar a sede.
Apreciar a sede, poder saciá-la e estar agradecido.

A semente

Se você tiver uma semente em uma das mãos e intenção de plantá-la, não carregue na outra mão o prato, o garfo e a faca.
Primeiro plante a semente e na outra mão traga água e dedicação.
fique atento, regue-a, observe-a e quando ela der frutos, então aí sim, aí você pode trazer o prato, o garfo e a faca.
Existe uma árvore dentro de uma semente?
De um lado não. Se você cortar a semente ao meio, não tem uma minúscula arvorezinha dentro.
De outro lado sim. Existe uma árvore, uma floresta dentro de uma semente, porque se você plantá-la numa terra bem cuidada e ela tiver sol e água, se transforma em árvore que terá mais sementes, que ao germinarem serão muitas árvores.
O tolo corta a semente ao meio em busca da árvore e fica sem nada.
O sábio vê nela a possibilidade muito concreta de uma floresta.
Na semente como no coração está a possibilidade.
Quando a semente é plantada no coração do homem, existe a possibilidade dela vir a ser uma floresta ou morrer semente.
Quando olho a pequena semente penso: é isto que poderá me dar sombra e alimento?
Essa coisa tão pequena e frágil?
Será que vale a pena investir meu tempo, esforço, fé e confiança em algo que não é nada, além de possibilidade?
Mas quando me sento embaixo de uma árvore frondosa, percebo que ela foi um dia semente.
Difícil acreditar que, na realidade, a maior das florestas surgiu, árvore por árvore, de pequenas sementes.
E que o mais longo percurso começa com o primeiro passo.
Plantada a semente, o primeiro passo está dado. Mas é preciso dar o segundo passo também e o terceiro. Seguir em frente sem parar no acostamento da estrada.
É bonito visualizar a possibilidade de uma vida consciente e com paciência investir nela, na possibilidade de ser feliz.
Estar aberto para a possibilidade de ver além de todas as coisas que mudam constantemente e experimentar algo imutável.
O coração não procura o tempo mas a eternidade.
O tempo é muito longo para os que sofrem.
O tempo é muito curto para os que se divertem.
Mas o tempo é eterno para os que amam.
Alguns acham que a vida é muito longa. Outros, que uma vida é muito curta. E poucos, que uma vida tem a medida certa.
Esses não esperam encontrar o céu depois da morte, porque o encontraram aqui mesmo, dentro. E o inferno, é claro, está bem ao lado, dentro.
Quando estou fora de mim, preso nesta raiva, neste medo, enquadrado na mentalidade do mundo, sem poder sequer sair, eu experimento agonia, eu frito no óleo quente do inferno.
Tal qual o enforcado do tarô, de cabeça para baixo, eu espero sentir o cheiro da terra, ver o pequeno broto verde rompê-la e aprender com ele a humildade necessária para o meu crescimento.
Sei que ninguém consegue crescimento instantâneo.
Sei que terei que ser paciente e não desistir. Terei que regar a semente todos os dias, menos aqueles em que eu me esquecer. E rezar para que a possibilidade aconteça para mim.
E então encher o recipiente que sou de gratidão e me sentir abençoado.

O rei e o mendigo

Kabir disse: Aquilo que sempre foi teu, será sempre teu.
E o que é que sempre  foi e sempre será teu?
era uma vez um rei que certa noite sonhou. e em seu sonho estava com fome. Então, como não tinha nada para comer, ele bateu na porta de um casebre e pediu à velha, que o atendeu, um pouco de comida.
Ela disse: só o que tenho para você é este punhado de lentilhas.
Comextrema dificuldade conseguiu acender o fogo para cozê-las.
Quando finalmente estavam prontas para serem comidas, passaram dois búfalos, brigando, e lançaram a lata com lentilhas ao chão; elas se misturaram com a terra e se perderam.
Neste momento o rei acordou aos prantos e se percebeu na sua cama de ouro e lençois de seda.
O rei ficou tão tocado pelo seu sonho que propos aos sábios de seu reino: Aquele que responder satisfatoriamente para mim a seguinte pergunta - Eu sou um rei que sonhou ser um mendigo, ou sou um mendigo que sonha ser um rei - receberá metade do meu reino.
Porém, se não, terá sua cabeça cortada. Muitos homens de seu reino tentaram responder-lhe, mas tiveram suas cabeças cortadas.
Um dia surgiu um menino aleijado, que na verdade era um mestre, e disse ao rei:
A resposta à sua pergunta é simples. Tanto o rei é ilusório quanto o mendigo. Você realmente é este ser interior que não é rei, não é mendigo mas algo maravilhoso e além de definições.
Se você puder simplesmente sentir, você será uma pessoa que poderá viver só através do sentir, através do sentimento que nasce do seu coração e não terá que viver dentro do mundo das definições estabelecidas como bom ou mau, certo ou errado. Você poderá estar acima do bem e do mal.
Apenas sentindo a vida, porque a definição de um sentimento é o começo e o fim dele.
Mas gostamos de não sentir, de nos anestesiarmos com as explicações.
Um dia você acorda muito feliz, sentindo-se realmente bem e no momento seguinte se pergunta: por que estou me sentindo tão bem? E encontra uma explicação qualquer para o fato.
Ou se está triste.
Por que estou triste?
Aí vem outra explicação qualquer que anestesia o sentimento.
Procuramos fugir do sentir e buscamos as explicações que nos anestesiam.
Era uma vez um homem que tinha uma sandália velha.
Ele sempre ia ao banho público com sua sandália e por isso todos a conheciam.
Seus amigos lhe diziam: Você deve se desfazer de sua sandália porque ela está muito velha e feia.
Um dia finalmente resolveu jogá-la fora.
Embrulhou-a e jogou-a no rio.
Acontece que alguém a encontrou , prontamente a reconheceu e levou-a de volta ao seu dono.
Moral da estória: quando você se apega por muito tempo a algo, mesmo quando deseja desfazer-se dele, ele retorna à você.
Estamos apegados a nosas explicações, definições e maneira de ver o mundo, tal qual nos foi ensinado. aquilo que pensamos ser uma opinião muito pessoal, muitas vezes nos foi enfiado cérebro abaixo desde pequeno.
É difícil dar um passo atrás e tomar uma certa distância do que penso e sentir.
Sentir a respiração, a entrada e saída do ar.
Isto sim é algo completamente novo. A respiração presente é nova, não é igual a anterior e não será igual a seguinte.
Poder estar em contato com o sentir, que realmente é novo; poder estar um pouco distante da máquina de pensar e dar espaço para este outro aspecto de mim mesmo que é o sentir.
Isto é revolucionário.
Perceber que a destruição não está tão distante assim da construção. Não são coisas opostas.
Para se fazer uma casa é preciso destruir as árvores do terreno. Para se cozinhar é preciso destruir os legumes. não há construção sem destruição. não há liberdade sem destruir a prisão.
Eu preciso me libertar dos meus antigos conceitos, revê-los, estar atento aos meus mecanismos automáticos de repressão do sentir, conscientizar-me dasminhas justificativas tão bem elaboradas e retomar à simplicidade, fazer o caminho de volta e encontrar o coração de menino imaculado dentro de mim.
E inclinar minha cabeça com humildade a este sentimento singelo e poderoso de estar comigo mesmo e deixar o sentimento de gradidão tomar todo o meu ser.

Eu preciso sentir

Minha vida é um presente tão precioso, dentro.
O tesouro está dentro.
O reino do céu está dentro de você.
A vida segue seu caminho e eu preciso ir onde ela for.
Eu preciso ver o que ela me mostra.
E eu preciso sentí-la. Eu preciso sentí-la.
Era uma vez um homem que estava sedento num deserto.
E na sua imaginação encontrou uma cachoeira e um rio no qual mergulhou.
Ele gritava de euforia.
Mas desperto de seu sonnho a sede era ainda maior. E mais ele andava, mais sede ele sentia.
Então ele sentiu o cheiro de umidade.
Por ali havia água de verdade.
Caminhando mais um pouco percebeu uma gruta.
Dentro dela havia uma pequena fresta e dela pingava água.
Agora era colocar sua cabeça embaixo da fresta, abrir sua boca e beber gota a gota até saciar sua sede.
Minha vida é um presente tão precioso e ela se manifesta pouco a pouco para que eu possa sentí-la.
Havia um pequeno pássaro que foi colocado numa gaiola.
A gaiola era feita de ouro, a balancinha de diamantes, a tijelinha de comida escavada numa esmeralda.
Todos que passavam diziam ao pássaro como ele era afortunado por viver numa gaiola de ouro.
Mas o passarinho estava terrívelmente triste. Ele gostava de voar.
E ele passou toda noite batendo-se contra as grades da gaiola, tentando escapar.
Mas não conseguiu libertar-se e então algo curioso aconteceu.
O passarinho desistiu. Aceitou a comida, aceitou a gaiola, aceitou a derrota.
E quando o tempo chegou, alguém abriu a porta da gaiola e disse:
Voa passarinho. Vai embora.
E o passarinho continuou quieto.
Ele tinha se esquecido de como era ser livre. Ele se esqueceu da liberdade.
Será que somos como esse pássaro que se esqueceu da liberdade?
Somos máquinas de sentir.
Sentimos dor, frio, amor, sede.
Mas queremos sentir a coisa máxima para se sentir.
Queremos sentir aquele sentimento especial que nos faz sentir realmente bem.
Queremos sentir aquela liberdade interior que nos faz sentir bem onde quer que estejamos.
Será que existe essa liberdade?
Pergunte ao seu coração e ele responderá que sim. Que existe e que você precisa sentí-la.
Eu quero sentir felicidade.
Todos nós associamos a felicidade com tantas coisas.
Felicidade é igual a muito dinheiro.
Felicidade é igual a muita saúde.
Felicidade é igual a ter uma linda família.
Felicidade não é igual a nada.
felicidade é igual a felicidade. E é isso aí.
Felicidade não é consequência das coisas. Felicidade é um estado de ser.
E você pode sentí-la.
Se você tiver coragem e paciência para ouvir seu coração, você vai sentir uma felicidade sem paralelos.
Você pergunta para o pássaro da gaiola se ele é feliz e ele responde:
Sim, sou.
O pássaro que se esqueceu de como é ser livre.
Mas os pássaros gostam de voar. Não há dúvida a este respeito.
Houve um momento na sua vida no qual você sabia ser feliz. Todos nós sabíamos ser felizes quando éramos pequenos.
A criança acorda de manhã com o sentimento, com a vontade de levantar, pular da cama e viver aquele dia.
Você já se sentiu excitado?
Realmente entusiasmado? Acordar e sentir: hoje é o dia!
A criança sabe algo do qual nos esquecemos há muito tempo.
Querer aprender a viver.
Querer saber o que afinal é tudo isso. O que é estar vivo?
O que é transformação?
Pegue um pouco de terra e jogue água nela. O que acontece?
A terra e a água se transformam em lama.
Lama que ninguém quer, que não serve para nada, que nos suja e é feia.
Coloque um novo elemento nessa composição: o oleiro.
Ele pega a argila que é feita de lama, cuidadosamente a molda e a coloca no fogo. E o que temos?
Um vaso. Um vaso de barro.
Agora se você colocar água dentro, ela se manterá pura e fresca.
Isto é transformação.
Existe um vaso também dentro de você.
E quando este vaso estiver cheio ele será quebrado e transformado num vaso maior, que quando estiver cheio, será quebrado novamente e transformado num vaso maior.
Este é o processo de transformação. Você precisa aceitá-lo e sentir-se agradecido.

Um poema de Lao Tze

Entre um "certamente" e um "provavelmente" que diferença existe?
Que diferença existe entre o 'bem" e o "mal"?
O que os homens horam deve ser honrado.
Ó solidão, quanto tempo vais durar?
Todos os homens são tão radiantes, como se fossem à grande festa das Oferendas,
Como se subissem ás torres na primavera.
Só eu, tão hesitante, não recebi ainda algum sinal:
Como uma criancinha que ainda não sabe rir,
irriquieto, andando ao léo como se não tivesse um lar.
todos os homens tem o supérfluo;
Só eu sou como que esquecido.
Tenho o coração de um tolo, tão confuso e obscuro.
os homens do mundo são esclarecidos - ai! Tão esclarecidos;
Só eu pareço um tolo!
Os homens do mundo são inteligentes - ai! - tão inteligentes;
Só eu estou como que trancado dentro de mim,
irriquieto - ai! - como o mar,
rodopiando - ai! - sem cessar!
Todos os homens rem seus objetivos;
Só eu sou ocioso como um mendigo.
Só eu sou diferente de todos os homens;
Mas acho muito importante
buscar alimento junto á Mãe!

6 de maio de 2012

O elefante e o escaravelho

A normalidade é nossa maior doença; é perigosa o suficiente para terminar com a espécie humana.
Todos nós queremos ser normais.
Já foram praticados inúmeros atos desumanos em nome da normalidade.
Tentamos manter nosso comportamento o máximo possível dentro da normalidade.
Nunca nos perguntamos: o que é ser normal?
Por que temos que ser normais?
O que os "normais" tem nos mostrado de significativo?
Nada além de mediocridade. Nada além de uma repetição de ações sem sentido.
A sincrônica estória entre estes dois animais que não se conhecem, o elefante e o escaravelho é a seguinte:
O elefante procura a chuva porque onde ela estiver, estarão os brotos novos que são seu alimento.
E o escaravelho procura o elefante porque ele produz esterco, muito necessário para a continuidade de sua espécie.
O escaravelho fêmea pega um pequeníssimo pedaço de esterco de elefante, coloca seus ovos dentro, faz uma esfera perfeita de barro, e enterra essa esfera na terra. O seu esforço para fazer isso é tanto que morre em seguida.
Quando o escaravelho-bebê está completamente pronto, ele tenta sair da casca mas não consegue porque o barro endureceu. Então ele precisa esperar pela chuva para que amoleça a casca e ele possa rompê-la.
A chuva atrai o elefante e quando o escaravelho sai da sua casa, adivinha o que tem esperando por ele?
Esterco.
Os escaravelhos provavelmente inspiraram os egípcios a construírem seus túmulos.
O que os escaravelhos fizeram de tão certo que sobreviveram aos avançados egípcios e sobrevivem até hoje?
Ouviram a mensagem simples inerente ao seu ser.
O ser humano também tem uma mensagem inerente ao seu ser: seja feliz.
Será que somos capazes de ouvir e seguir esta orientação inerente?
Ou será que seguimos milhares de orientações falsas ditadas pelo mundo, passadas de geração a geração sem ao menos serem contestadas, pesquisadas quanto a sua veracidade, a sua validade?
Estamos perdendo o contato com o nosso coração e portanto estamos perdendo a nossa humanidade.
É preciso estar atento e forte.
É possível vivermos como a flor de lótus, com as nossas raízes na sujeira e nossos corações na beleza da simplicidade.
Podemos estar atentos para a realidade interna ditada por nosso coração e confiarmos que nesta realidade nada nos faltará.
Nesta realidade podemos ser, podemos existir e podemos contemplar a sicronia perfeita entre nossa sede e a água.
Não podemos desejar ter o que queremos mas certamente teremos o que nos é necessário para sermos felizes.
O que realmente sabemos a respeito da verdadeira felicidade?
Felicidade que é a liberdade que pode ser sentida dentro, onde quer que estejamos?
Existe um ditado que diz: áquele que busca o caminho da verdade, a natureza se coloca ao seu lado.
Percebo que quando confio na intuição do meu coração e dou um passo no abismo, sempre sou surpreendido por um chão firme e invisível que me ampara e posso continuar com mais um passo o meu caminhar.
Esta confiança neste caminho, nesta outra realidade, vem da observação diária da sua solidez.
Observo que a felicidade que meu coração me oferece está sempre no agora e é plenamente sentida e comprovada.
Observo que a felicidade que o mundo me oferece está sempre amanhã e nunca pode ser comprovada.
Sinto que fiz a escolha e que tenho que fazê-la todos os dias. Nada é garantido.
Neste caminho é preciso estar atento, para seguir estas novas leis que vou descobrindo através do aprendizado, da observação e da comprovação.
É um caminho de entendimento. Não um entendimento puramente racional, mas um entendimento com o coração. E tornar esse entendimento em escolha, agir de outro jeito. Neste mesmo mundo sem consciência, agir com consciência.
Aprender com os erros e as quedas. Não aprender a aprimorar-se no erro mas transformar-se pelo erro.
Quando cair pegue uma pedra do chão.
Estar comprometido não com a palavra dada, mas com o sentimento do meu coração.
Meu coração é meu Senhor e minhas palavras são somente a expressão que este Senhor tiver para expressar.
Nada pode ser mais radical que o coração dos homens.
Nada pode ser mais ousado, criativo e radical do que ouvir e entender a linguagem do coração.
As leis do mundo tornam-se mentirinhas sem nenhum poder, algo difuso, confuso e distante.
Alguma coisa do passado que vez ou outra reaparece como monstros de neblina a serem desmascarados e esquecidos.
Não há tempo para os monstros de neblina, neste lado ensolarado da rua.
Nada é mais suave e doce do que o coração dos homens.
Nada é mais sutil e belo do que estar conectado com o meu coração e poder sentir o sentimento sublime da gratidão.

5 de maio de 2012

Você é só

O ser humano é belo. Queremos estar juntos e desfrutarmos da companhia um do outro.
Gostamos das pessoas de nossa família, dos nossos amigos, dos entes queridos. Paralelamente, nas cadeias, o maior castigo é ser colocado numa solitária. Você com você mesmo.
Algumas pessoas enlouquecem nesta situação. Só, consigo mesmo.
O que é que acontece?
Há um ditado que diz: o pensar é um presente do Criador, mas o que você pensa é um presente seu para você.
Preciso aprender a me conhecer, a me tratar bem, a não ter medo de mim e desfrutar da minha companhia.
O amor romântico me diz: se você quer ser minha namorada você tem que ser somente minha e seguir o meu caminho mesmo que ele seja triste para você.
Você deve se sacrificar pelo seu amor. Quanto maior o sacrifício, maior o amor. Você deve ser feliz pelo que seu amor realiza.
Ou se você é mãe: ser mãe é padecer no paraíso.
Ou se você é filho: os filhos devem obediência aos pais.
Pergunte a uma pessoa: quem é você?
A resposta será: eu sou um executivo de tal empresa, sou pai, sou esposo, sou dono de uma casa e de um carro.
Agora, se você perder o emprego, o filho, a casa e o carro, quem é você?
Você é aquela mesma pessoa que no dia em que nasceu ganhou uma vida, passou a existir e é aquela mesma pessoa que um dia vai morrer.
Conte a um doente terminal que o carro dele foi roubado. Será que ele vai se desesperar?
Você nasceu individualmente e vai morrer sozinho.
Você come para se alimentar, ninguém pode comer por você.
Você sente-se feliz quando se sente feliz. É um sentimento interno.
Você não pode ficar feliz por ninguém e ninguém pode ficar feliz por você.
A capacidade de individuação é que determina a qualidade do relacionamento.
O amor romântico, o sacrifício em nome do amor é uma mentira perigosa.
Quando deixo de seguir o caminho do meu coração para seguir o caminho de outra pessoa que penso amar, termino aos pedaços, desiludido e solitário.
Ser só sem ser solitário, com o coração pleno, consciente da minha individualidade. Cuidando para manter minha individualidade no meio das minhas ações e relacionamentos.
Minha unicidade, aquilo que sou, é belo e frágil. Exige meu esforço e minha atenção para não se perder, não se misturar, transformando-se numa gosma indefinida.
É um trabalho demorado separar minhas raízes de outras raízes.
Beber o mesmo vinho em taças separadas.
Ser feliz independentemente do que acontece ao outro.
Porque o sentimento de estar feliz é um esforço individual e só eu posso fazê-lo. Você pode ser livre para ser feliz.
A liberdade só existe na individualidade.
Eu preciso aprender a ser só para curar-me do amor ensinado pelo mundo.
Desaprender. Deixar de lado a fita gravada na minha mente e aprender o verdadeiro amor.
O amor que só o coração sabe amar e ficar completamente agradecido.

4 de maio de 2012

A magia da incerteza

Todo dia é meu começo e todo dia é meu fim.
Há aqueles que olham para os pássaros e dizem: pássaros; há os que olham para os pássaros e dizem: como é bonito ver os pássaros voando no céu. E há aqueles que voam também.
Os pássaros não plantam, não colhem, nem enchem os celeiros.
No entanto são cuidados. Continuam vivos dia após dia.
Olhaí os lírios do campo, não tecem suas roupas mas sua aparência é magnífica.
Por que o medo do amanhã ditando o meu hoje?
Por que a segurança, a certeza de que tudo está sob controle determinar os meus dias?
Quanto mais incerteza você conseguir experimentar, maior será sua capacidade de aprendizado.
Quanto mais incerteza você suportar, mais magia você experienciará.
Quer eu goste ou não, minha vida está baseada na incerteza.
Existe esta única certeza que é a morte e tudo o mais é incerto, na realidade.
Não apertei um botão para nascer, nem apertarei um botão para morrer.
Eu não controlo minha vida, não controlo os acontecimentos do meu dia.
meu livre arbítrio, minha escolha é: viver a vida como ela deveria ser ou viver a vida como ela é.
Quando aceito o que a vida tem para me oferecer, percebo que o que ela me dá é muito mais do que jamais tive capacidade para imaginar.
Viver conscientemente um passo de cada vez.
Preciso começar a perceber e a aceitar a qualidade que foi colocada na minha vida.
Você pode imaginar como poderia ser ter pés mas não ter chão para pisar?
Ter nariz mas não ter ar para respirar?
Este corpo foi criado para ser feliz. É necessário mais músculos para chorar do que para sorrir.
Fomos desenhados para sermos felizes.
Precioso é o coração cuja porta está aberta.
A magia que experimento quando sigo meu coração... posso viver num oásis de amor.
Será que você quer conhecer o outro lado? O lado de dentro?
É mais do que sonhei. Não sei como todo esse sentimento bom surge. Estou livre de todas a miséria. Sinto harmonia.
Posso desfrutar da minha vida mesmo nos momentos mais escuros.
Quero ser feliz independentemente do que me está acontecendo.
Quero confiar na magia da vida. Confiar cem por cento na vida.
Sinto no meu coração a celebração do amor que está dentro.
Tudo está bem, dentro.
Não há nada para esconder, o amor está do seu lado. Um amor sem fim do seu coração.
Teu coração não te julga, está sempre ao seu lado, quando você é bom e quando você é mau.
Teu coração é teu melhor amigo; é sábio, generoso, amoroso e constante.
Teu coração não fala muito, mas quando fala, ele diz algo realmente significativo e verdadeiro.
O mundo nos dita tantas regras. Para você ser feliz você precisa fazer isto e fazer aquilo, conseguir isto e conquistar aquilo, ter poder, ter dinheiro, ter isto e ter aquilo.
Todos nós neste mundo pensamos numa coisa: sucesso. Não importa quão alto chegamos neste mundo, não importa quanto conseguimos juntar, não importa quão grande é a fatia do bolo, é o mesmo bolo.
Quanto mais você perceber o jogo deste mundo e melhor você jogar o jogo, mais fácil vai ser para você viver neste mundo.
Mas não se pode jogar o tempo todo. Em algum lugar tem que estar o lar.
Eu vivo neste mundo e eu gosto. Mas sei que o que me faz feliz não está no munndo mas dentro do meu coração.
Por que você vai todos os dias durante anos à escola? Para ter um bom trabalho e ganhar o pão de cada dia. É bem duro ser feliz com a barriga vazia! Afinal o que você quer? Quer ser feliz.
Por que você quer ser feliz?
É uma pergunta idiota, mas talvez se você não a fizer, nunca saberá que tipo de felicidade você quer para você. E nem saberá o que é que faz você se sentir feliz.
Tem uma história que diz assim: algumas pessoas quizeram saber quem era a pessoa mais feliz do mundo.
Então foram ao mendigo e perguntaram: você é feliz?
Ele respondeu: bem, eu não tenho que pagar impostos, não tenho que bater cartão. Mas sempre que preciso de dinheiro, recebo-o do negociante que passa por aqui. Acredito que ele seja feliz.
Vão até o negociante e perguntam: você é feliz?
Eu tenho um carro, uma casa, um cachorro e um empregado. Mas o rei tem muito mais do que eu. E por isso eu acho que ele é feliz.
Foram até o rei e perguntaram: você é feliz?
Eu tenho ouro, tenho terras, tenho palácios. Mas Deus tem todo o universo; por isso creio que ele seja feliz.
Foram até Deus e perguntaram: você é feliz?
E Deus poderia ter respondido: sim, eu sou Deus, eu sou feliz. Mas nesta estória a resposta que ele deu foi diferente:
A pessoa mais feliz do mundo é aquela que tem devoção por mim. Que é meu devoto.
E isto faz sentido porque as pessoas tentam todas as formas de serem felizes, mas terminam com as mãos vazias.
Encontrar Deus dentro de você, é algo tão íntimo, tão secreto, que só você pode fazê-lo.
Não acreditar cegamente na existência discutível de Deus, ensinado nas religiões, mas encontrá-lo no seu coração e ficar agradecido.

Os dois deuses

Quando uma pessoa deseja encontrar Deus, é bom que se faça a seguinte pergunta:
Com qual Deus eu desejo me encontrar?
Sim, porque há dois deuses.
O Deus que eu criei e o Deus que me criou.
O Deus que criei à minha imagem e semelhança é um Deus que por definição é inatingível. Está lá no alto, o tempo todo me observando. Anota cada pequeno erro que faço e um certo dia me julgará. Este é o Deus que inventei, distante de mim.
Para estar com ele, primeiro eu preciso morrer, depois da minha morte, se tiver feito tudo certo na vida, então estarei com ele no paraíso.
E há o Deus que me criou, que criou tudo o que tem vida e a vida em si mesma.
Este Deus está mais do que perto, está dentro de mim e eu posso aprender a sentí-lo.
Este Deus, esta vida, não me julga.
Quando um homem comete um assassinato, ele não pára de respirar, a vida continua co ele da mesma maneira.
Se há um paraíso e ele é tão bom como dizem, então eu quero sentí-lo agora.
Agora é que tenho um corpo dotado de capacidade para sentir, depois, quando estiver enterrado, com o que poderei sentir?
Este Deus que eu criei me ensina a culpa.
Cul´pa por sentir raiva, medo, inveja. Culpa por ser humano, imperfeito e só ser capaz de aprender tentando, atrvés de acertos e erros.
Culpa por eu nunca ser como deveria ser, por ser como sou.
O Deus que me criou me ensina a ser eu mesmo.
Me ama incondicionalmente, porque é Amor.
Faz o por do sol para que eu e você desfrutemos de contemplá-lo.
Comunica-se comigo através do meu coração. Está sempre comigo, nunca me julga, apenas permite que eu seja livre, que eu escolha os meus atos e aceite as consequências deles.
Preciso aprender a ser responsável pelos meus atos.
Preciso aprender a ter compromisso comigo mesmo.
Este mundo me ensina a ter compromisso com tantas pequenas coisas , mas não me ensina a ter compromisso comigo mesmo.
Ter compromisso com esta vida. Ser inteligente, responsável, sensível o bastante para dizer:
A minha vida é importante para mim. O que o meu coração me diz é importante para mim.
Ser capaz de agir a partir do sentir do meu coração.
Perceber que a vida é dinâmica, não é estática.
Não ficar atolado na culpa porque errou, perceber o erro e seguir o caminho, porque cada respiração é nova.
Este é o verdadeiro milagre de Deus: a respiração.
Conhecer este amor que não julga.
Todos nós gostamos de julgar, mas temos medo de sermos julgados.
Este Deus que criei me ensina a viver com medo de ser julgado.
O Deus que me criou por amor me livra de toda a culpa e me ensina a estar agradecido por poder apreciar o milagre de estar vivo.

Lute para libertar seu coração

Existem duas coisas em você:
A cabeça e o coração.
Tudo o que nos foi ensinado, todas as informações, idéias, pensamentos, todo o Universo que conhecemos, nossas referências, nossa lógica e raciocínio, são percepções de nossa mente.
Mas isso não quer dizer que não existe o coração. ele existe.
Eu viajei por muitos lugares: América do Sul, Estados Unidos, Europa, Índia, e pude observar que cada lugar tem características muito diferentes. Comida diferente, língua diferente, roupa, cultura, paisagem, nível econômico, forma de governo, raça diferentes.
Do ponto de vista da mente, pela observação racional, tudo é diferente de região para região.
Mas do ponto de vista do coração tudo é igual. Todos somos seres humanos. Todos respiramos, todos queremos ser felizes, não importa de que maneira.
Mas é como se a cabeça fosse grande e forte e o coração pequeno e frágil, porque nosso coração está enterrado muito fundo dentro de nós.
É como se tivéssemos dois amigos e com cada um tivéssemos que ter um tipo de relacionamento. Com o amigo de cima, de vez em quando temos que dizer:
- Ei, dá um tempo!
Mas com o amigo de baixo temos só que desfrutar da sua companhia.
Você se lembra de quando era uma criança?
Você tinha urgência de se levantar da cama, não porque tinha um compromisso, mas simplesmente porque mais um dia, onde tudo poderia acontecer, começara.
Você ficava extasiado com suas descobertas. Um grilo podia ser o maior barato. A chuva, a enxurrada era um brinquedo. Você não pensava no amanhã, pensava?
Não, você sentia a vida com o coração. Era uma outra dimensão...Tua vida acontecia numa outra dimensão, não era?
Agora você pode dizer: mas não sou mais uma criança, tenho compromissos, tenho família para sustentar, tenho responsabilidades, meu emprego, muitos problemas para resolver, não posso mais sair na chuva simplesmente e brincar na enxurrada.
Quando você era criança não se importava de se molhar na chuva.
Agora você não quer molhar o seu terno, certo?
O que mudou?
Certo, você tem que cuidar da sua vida, do sustento de sua família, mas você não precisa deixar que se perca aquele coração de criança que você tinha e ainda tem.
Enterrado bem lá no fundo, ele está lá. Continua desejando coisas simples. Estar preenchido, sentir-se pleno, sentir-se bem.
Lute para libertar seu coração. Pegue a espada da fé, da confiança, da gratidão e verifique-se de que você vencerá.
Faça esta mistura de fé, confiança, gratidão, vontade, apuramento, acontecer na sua vida e esteja certo de que ela é muito poderosa.
Lute esta luta final com você mesmo. Lute ao lado do seu coração. Liberte-o. Deixe que ele se manifeste.
Tente conhecer o lado de dentro. Você mesmo. Conheça os seus sentimentos.
Tua cabeça vem com a lógica e o teu coração com o sentimento.
Deixe que ele cresça, fique forte. Desfrute de sua amizade, de seu amor. Perceba que existe este sentimento de gratidão dentro de você. E quando você simplesmente sentí-lo, seu coração se abrirá.
Conecte sua consciência com seu coração. Com a verdade de seu coração.
Essa verdade que não está relacionada com a situação política, com os costumes, com o tempo.
Apenas com este sentimento de bem estar e plenitude, que sempre existiu, existe e sempre existirá.

O professor e o aluno

Não há professor sem aluno, nem aluno sem professor.
É um triângulo de amor: o aluno, o professor e o conhecimento.
Encontrar o professor que vai te ensinar a escutar seu coração,
que vai te ensinar a entender a linguagem do seu coração.
Seu coração tem tentado se comunicar com você, mas você não entendeu a linguagem.
O professor com seu amor e o aluno com seu querer aprender,
juntos, um ensinando, o outro abrindo seu coração.
Sempre ouvimos o que nossa cabeça tem para nos dizer. Poucas
vezes estamos em silêncio para ouvir a mensagem do nosso
coração.
O professor fala com o coração dele, para o seu coração.
Ele vai te mostrando, te convidando a experimentar a vida como
 ela é, distante dos conceitos.
"Eu não vim para trazer a paz, mas a espada"
O professor ensinará a usar a espada contra seus conceitos.
O professor diz:
"Conhece-te a ti mesmo".
Dentro de você está a beleza, o tesouro e a felicidade.
Ser aluno do professor da linguagem do coração é um privilégio.
Chegar até o professor com o coração de criança e querer aprender,
o que quer que ele tenha para ensinar.
Era uma vez um homem que queria muito aprender sobre a vida.
Um dia ele ouviu falar sobre um mestre, foi ao seu encontro e pediu-lhe:
- Por favor, ensina-me sobre o amor?
O mestre respondeu-lhe:
- Nada tenho para lhe ensinar, vá embora.
Perplexo com a resposta se foi.
Pensou: Devo ter feito a pergunta errada.
E outro dia voltou ao mestre e disse-lhe:
- Por favor, sei que você é um mestre, ensina-me sobre a paz?
O mestre respondeu-lhe:
-Vá embora.
O homem passou vários dias triste até que encontrou a pergunta certa e com o coração vazio, chegou ao mestre mais uma vez e disse:
- Ensine-me o que quer que você tenha para me ensinar. Quero ser seu aluno.
O mestre respondeu-lhe:
- Está bem.
O mestre é um mestre; é um mestre; é um mestre.
O aluno é aquele que quer aprender a receber.
O professor ensina que você é a coisa mais importante.
Que a vida é a coisa mais importante e que ela não é eterna.
É incrível como não temos consciência de que vamos morrer.
O professor torna o óbvio mais óbvio para nós.
Eu vou morrer. Consciente da minha morte, tento desfrutar cada momento de minha vida, porque sei que vou perdê-la.
Não é de brincadeira. A coisa é pra valer.
O professor te dá a pá, os instrumentos, mas é você quem vai cavar dentro de você, com paciência e determinação até encontrar a fonte.
É você quem vai beber a água e ficar satisfeito.
O aluno tem o coração cheio de gratidão pelo professor.
Eu era cego para a vida, mestre e você me ensinou a enxergar.
Eu era surdo ao meu som interior, mestre e você me ensinou a ouvir.
Você me ensina a fazer o palco para meu coração dançar.
Você mostra-me que a beleza de um por do sol é apenas um reflexo da beleza do meu interior.
Você mostra-me o meu interior.
Você ensina-me a mim mesmo.
Você ensina-me a ser só, a desfrutar de mim mesmo.
Você me encoraja a seguir este longo caminho para dentro.
Você ensina-me a sentir o sentimento mais sutil.
O professor é o mestre que por bondade escolheu ensinar.
O aluno sente-se agradecido.
O mestre vivo torna as palavras experiência viva, para que eu possa experimentar.

Qual é o seu querer?

Sentir-se tão sintonizado
que você possa aceitar a
 incerteza

Teu coração nunca te fez perder-te

Queremos paz, queremos felicidade,
temos a qualidade de nos sentir bem
se respondermos ao nosso coração

É o querer que faz tudo funcionar
Qual é o seu querer?

21 de abril de 2012

DANÇA PARA A PAZ - SOLANGE ARRUDA

Querida mãe

Estou tendo essa oportunidade de conhecê-la melhor.
Quando criança, não pude fazê-lo, porque sentia medo de você.
Quando adolescente, sentia rebeldia e não conseguia vê-la.
Agora aos sessenta anos, depois de quatro casamentos, bem sucedidos, mas que se acabaram, me volto á você.
Ainda sinto um pouquinho de medo, você é muito certinha e muito diferente de mim.
Tenho dificuldade de me comunicar com você.
Você gosta de dança clássica e eu de dança de vanguarda.
Sou aérea e você tem um sentido prático que invejo.
Você diz que não me conhece.
Que estudou astrologia para tentar me compreender.
Que sou muito impulsiva e preciso aprender a ter mais paciência, analisar a situação, antes de tomar decisões.
Hoje lhe trago rosas para expressar o meu amor e gratidão.
Sei que você deseja o melhor para mim, só não consegue entrar no meu mundo tão estranho e diferente para você.
Torna-se urgente que nos conheçamos.
Mais importante, que possamos expressar nosso amor.
Quero enxergar melhor suas inúmeras qualidades.
Eu te amo.
Quero perder o medo e conhecê-la.
Conhecer o seu interior, suas sensações e seus anseios.
Quero aprender comvocê.
Finalmente, gostaria que nossos mundos ficassem mais próximos.
Com amor.
Sua filha.

Meu pai

O que dizer de alguém que você sempre amou e se sentiu correspondida.
Que mesmo depois de sua morte, sente sua presença afetuosa, calma, generosa e companheira.
Ele é tão presente que não sinto saudades.
Fecho os olhos, sinto sua mão protetora e vejo seus lindos olhos azuis.
Converso com ele em meus pensamentos.
Quando vou dizer algo penso " papai está certo dizer assim?" e ouço sua resposta.
Ontem foi seu aniversário e cantei "parabéns prá você" para ele.
Gostaria de lhe dar uma camisa vermelha de presente, que pudesse remoça-lo, para que ficasse muito bonito e minhas amigas dissessem: "Como seu pai é belo".
Sim, eu sei o que é ter um pai.
Não me sinto só.
tenho meu pai para me fazer companhia. Tenho sua presença e seu amor eterno.
Sou eternamente grata a ele.

mãe, irmão, eu e pai

Evocação Poética

Pequenas danças escritas, onde comunico estados de ânimo, nuances dinâmicas fluentes, dramáticas ou concretas, alegres, fantásticas ou delirantes.
Meus sentimentos em relação ao mundo externo e interno.
Relações. Movimentos cotidianos, sociais, culturais, políticos e emocionais. Soltura da repressões. Amor ao movimento, a liberdade.
Expressão. Sentimento. fluidez.
Textos que pressionem, flutuem, torçam, sacudam, deslizem, chicoteim, tremam, batam.
Surtos de entendimento, sinceridade e coragem.
Impactos. Delírios insones.
Quebra dos gestos padronizados, alienados, mecânicos, rígidos, estreitos, covardes, iguais, repetitivos, cinzentos, sem rítmo, medrosos, invejosos, maléficos, ciumentos e doentios.
Cruéis. Violentos. Furiosos. Raivosos.
Percepção do espaço: o espaço e eu somos escultores-dançarinos-escritores.
O espaço envolve-me, acaricia me. Amo o espaço, sinto sua textura.
Sinto-me presente. Percebo a presença do outro.
Sou líder e liderada.
Humilde vou aprendendo a me relacionar comigo mesma e com o outro.
Dança Coral.
Dança Inclusiva.

Inclusão. Negros. Belos. Sensuais. Rítmicos. Cinéticos. Negróides.
Brancos com alma negra.
Samba.Sinto o samba. Sambo como posso. Como branca. Mestiça. Parda.
Sou. Soul.
Aqui e agora.
Isso é unidade.
Dança Expressiva.
Festa, poesia e descoberta.
Alteridade. 

Bailarina ou Dançarina?

Sem querer me aprofundar teóricamente nessa questão, posso afirmar que quando a dança contemporânea surgiu, criada por Rudolf Laban, Isadora Duncan, entre outros, dois fatos foram marcantes: as sapatilhas, para se ficar nas pontas dos pés, e a saia de tule, foram abolidas. Em seu lugar ficaram os pés descalços e variados figurinos. Com isso desejava-se evidenciar que a nova dança respeitava a constituição corporal, utilizando-se das novas descobertas da biologia e fisiologia humana. As sapatilhas eram consideradas nocivas a saúde gerando problemas de articulações. Respeitava, procurava conhecer e aprofundar-se no conhecimento das emoções, da mente, do inconsciente, baseado na nova ciência, a saber a psicanálise, criada por Freud, seguida por tantos outros: Jung, Lacan, etc. E os avanços eletrônicos, a fotografia, o vídeo, cinema, tv e atualmente a internet.
Na dança clássica ou ballet, daí a palavra bailarina, da época ( hoje as coisas mudaram muito ), o coreógrafo queria mostrar um ser humano, acima da terra, das coisas cotidianas, um semideus e valores supremos ou românticos. Na dança contemporânea e moderna ( não vou me estender, elucidando as diferenças das duas, por hora basta saber que ambas se opunham aos conceitos da dança clássica e que representavam um rompimento com ela ), o coreógrafo queria e ainda quer mostrar o homem ligado a terra, seus conflitos emocionais e suas questões cotidianas, sociológicas e políticas. Nesse sentido posso dizer que essas danças eram opostas. Curiosamente, nos anos seguintes, os coreógrafos retomaram a técnica da dança clássica, sem retomar as sapatilhas, a saia de tule e tão pouco os valores morais da dança clássica. Apenas a técnica.
Para o bem da verdade é preciso dizer que a dança clássica, atualmente, também assimilou as mudanças de pensamento do mundo moderno e sofreu grandes transformações, tanto na forma como no conteúdo de suas criações coreográficas. Pessoalmente tive aulas de dança clássica na infãncia, curso escolhido pela minha mãe. Na adolescência, quando conheci Maria Duschenes, que era um pouco preocupada com a técnica da dança clássica, preferi a capoeira,  o Karatê, o Tai Chi Chuan, a técnica de Martha Graham, , a dança africana, a yoga, além da técnica corporal labanista para o desenvolvimento da minha técnica de dança.
Por isso fica a questão: dançarina ou bailarina?
Todo esse discurso seria desnecessário se não houvesse o desentendimento cultural brasileiro sobre a palavra dançarina. Desde jovem pude observar que a palavra dançarina é interpretada como dançarina de cabaré, ou até mesmo prostituta.
O meu conflito é romatizar meu trabalho, chamando-me de bailarina ou prostituí-lo chamando-me de dançarina.
Sofro a angústia do escritor que sabe que as palavras são insuficientes para expressar todos os sentimentos e idéias. Muitos são inexprimíveis em palavras, outros nem a música, a dança ou qualquer outra arte consegue. E tampouco a religião.
Encontro-a dentro de mim, mas não posso comunicá-la.
Qual a solução?

Dança Teatro

A Dança Contemporânea se aproximou do teatro. Pina Bauch é a coreógrafa mais conhecida desse tipo de dança, mas é uma tendência atual.
Anos atrás fui convidada á fazer o papel principal da peça infantil "Super Etc... contra a Seita do Dragão Vermelho". Aceitei de imediato, consciente de que meus estudos de Laban seriam suficientes para desempenhar essa função. Nunca tinha feito nenhum curso de teatro, mas já tinha dado aulas de expressão corporal para atores. Achei fácil interpretar. Também tinha que dançar e cantar. O diretor era muito bom e o processo foi muito bem sucedido. A peça foi um sucesso de crítica e bilheteria. Ganhou os premios de melhor direção e melhor cenografia. Ganhei o premio mambembe de revelação de atriz. Aí ficou confirmada minha convicção que o método Laban prepara o indivídui para a dança e o teatro, entre outras atividades. Meu livro "Arte do Movimento" - As descobertas de Rudolf Laban na dança e ação humana, é referência para trabalhos nas áreas de: psicologia, psicanálise, música, teatro, pedagogia, educação-física, vídeo, fonoaudiologia, dança educativa, dança coral e dança teatro, entre outras.

Deficiência Física

Além de bailarina ou dançarina, também sou atriz, coreógrafa e professora de Dança Contemporânea Expressiva pelo Método Laban, Últimamente tenho me dedicado como coreógrafa e dançarina voluntária na difusão da cultura da Paz, cuja figura principal é Prem Rawat, meu mestre de Autoconhecimento e paz interior.
Também sou deficiênte física.
Aos 30 anos, com uma carreira de atyista bastante promissora, voltando de Paraty para uma entrevista na TV Cultura, sofri um grave acidente de carro.
Estava no banco de trás com Takaoka e meu filho caçula de dois anos.
Rolamos montanha abaixo, perto de Caraguá, na curva da morte.
Ninguém se machucou, por milagre.
Só eu.
Além de muitos cortes e ossos quebrados, quebrei severamente a coluna e fiquei impossibilitada de andar por um ano. Aos poucos fui recomeçando a andar, mas fiquei com o "pé caído" como sequela permanente.
Maria Duschenes, minha professora de Laban e introdutora de seu método no Brasil é deficiênte física também.
Aprendi dança de seu jeito, através de suas palavras e de seus movimentos.
Sabia que continuaria com a dança de algum modo.
Certo dia ela chegou em casa, para visitar-me. Disse-me que me espelhasse nela e entendesse que tinha muito a contribuir com a dança no Brasil.
Foi uma visita inesquecível!
Assim sendo eu a obedeci. Escrevi o livro "Arte do Movimento", coreografei danças corais e até dancei. Do meu jeito. Expressivo e teatral. Por isso é que digo que a dança é uma expressão que vem da alma e comunica-se com os corações das pessoas.
Onde há vida, há movimento.
Danço!

20 de abril de 2012

Roteiro Sentimental

São Paulo - 62 em diante.
Morar na Cristiano Viana, em Pinheiros e estudar no Colégio Alves Cruz, na João Moura.
Rua Teodoro Sampaio ( como atravessá-la? ). Chegar na cidade grande, ser excluída pela pronúncia do R. Uma, no meio da multidão. Desejo de inclusão, desejo de ser vista, de não ser só mais uma.
Colégio de Aplicação da USP. Faço o clássico. Cinema Belas Artes, filmes de arte europeu, ou não... Bergman, Fellini, Godard, Buñuel...
Abaixo a família castradora, abaixo a burguesia, abaixo a ditadura!
Não tem faculdade de Dança.
E agora?
Escola de Dança da Maria Duschenes, perto da Igreja da Av. Dr. Arnaldo: Arte do Movimento, expressão, paixão, descoberta.
Amigos da USP - Arquitetura - Oswald de Andrade, Flávio Império e seus alunos.
Artistas. Os índios não foram extintos, nós sobrevivemos, índios que somos.
Danço!
USP, TV Tupi, TV Cultura, Masp, Sescs, Fiesp, Sessi, Teatro Municipal, Teatro de Arena, Teatro TBC, Teatro Lira Paulistana... Danças nas praças, nas bibliotecas,. Dança Coral: perceber-se como indivíduo    no meio da multidão.
Vila Madalena - Cultura Japonesa, pintura, sumiê, música, roupa, quietude, meditação. Takaoka.
Negritude, Capoeira, Samba, Gigante Brasil, Dança Inclusiva.
René Studer.
Prem Rawat e a Paz Interior.
Jardim Paulista - reciclagem. Casa das Rosas, Av. Paulista, Augusta, Pamplona.
Onde viveu Guilherme de Almeida, num dado momento.

27th Connecticut College American Dance Festival

1974 - 23 anos.
Uau, Yes! vou para os Estates. Sozinha. Primeira vez que saio do Brasil.
No Colégio da Aplicação da USP, costumávamos dizer: Morte aos americanos imperialistas. Mas agora eu adorava a dança contemporânea americana.
Power and Flower, Nixon, Ho Chi Mim, guerra do vietnãn ( a primeira aser televisionada ), o avanço ativista dos negros, uso da maconha.
Maria Duschenes recomendou: cuidado! Não quiram ser o melhor aluno, não se cansem demais, não adoeçam.
Dança de manhã, de tarde. Cada noite um espetácula diferente, com grupos de todas as partes do mundo e de todas as partes dos EEUU.
Na primeira semana fiquei tão cansada, que depois de uma aula de Martha Graham, adormeci na banheira com a torneira aberta; banheiro e quarto ficaram inundados.
Tinha espetáculos ao ar livre também, como aquele ao redor do lago com 3 dançarinas girando sem parar por 50 minutos ao luar, como os Sufis. O público sentado no gramado.
As salas de dança eram enormes, com paredes de vidro, onde se via os enormes gramados verdes, com muitas árvores e esquilos correndo.
Depois dos espetáculos, os alunos de dança se juntavam aos outros de outros cursos, todos jovens, nas festas com álcool e maconha.
Na manhã seguinte estávamos todos no café, prontos para mais um dia de experiências.
As pessoas foram se juntando aos pares de namorados. Quanta liberdade! No Brasil, nunca tibha visto nada igual.
Uma noite, numa festa, depois de um espetáculo fabuloso, alguém bateu no meu ombro.
Virei-me e vi o dançarino, semideus, que tinha dançado a pouco.
Ele me disse, assim do nada: Você quer dormir comigo?
Fiquei parada, sem nenhuma reação, por um tempo indeterminado. Meu raciocínio sumiu.
Ele me olhou. Pelo jeito eu estava com cara de débil mental. Virou-se e se afastou.
Vi quando ele abordou outra garota de lindos cabelos loiros. Saíram abraçados. Com certeza foram para acama, pensei. da próxima vez, já sei o que fazer. Mas nunca mais aconteceu.
Quando deixei a faculdade, vi vários alunos saindo de perna engessada, com muletas.
Maria Duschenes sempre tinha razão.

19 de abril de 2012

Dança e Brasil

Eu dançava enquanto...

O Jânio renunciava.
A utopia de JK terminava.
O fogo queimava a UNE.
Castelo Branco se tornava presidente-ditador.
Via-se a tristeza dos militares no Brasil "Ame-o ou Deixe-o".
Costa e Silva.
O Decreto AI-5.
Médici.
Herzog pendurado numa corda.
Tortura.
Figueiredo fazendo ginástica.
Tancredo Neves morrendo na hora da posse.
 Democracia com sarney, homem da ditadura.
Inflação - 80% ao mês.
Collor fazendo Cooper e confiscando a grana do País.
FHC, tentativa de racionalidade política.
Lula populista.
Dilma tentando desfazer as armadilhas que seu chefe deixou.
Danço pela Paz.
Mal não faz.
Pela minha Paz.

É preciso errar

Maria Bardelli era uma mulher de 80 anos com cabeça de 20.
Costumava reunir em sua casa, pessoas interessadas no Conhecimento, jovens em geral, para troca de experiências. Dizia: você precisa fazer coisas novas, arriscar-se, expor-se mais, não tenha medo de errar, saia da rotina.
Decidi que iria para os EEUU, sem dinheiro, para ver como ia me sair.
Saí da casa dela, com uma conhecida, quase amiga e fomos tomar um café num hotel, por perto.
Disse-lhe que pretendia viajar em breve, embora não tivesse dinheiro. Para minha surpresa, ela respondeu: a passagem você já tem, eu vou te dar de presente, quero ajudá-la porque você parece muito decidida, e eu gosto disso.
Arranjei 100 dólares emprestado e fui para Miami, sem destino certo.
Tinha o telefone de uma conhecida. Desci do aeroporto e fui para a praia. Entrei no mar de roupa e tudo. Sentia-me a pessoa mais livre do universo. Passado este momento de embriaguês, entrei em pânico. O que estou fazendo aqui com 100 dólares no bolso?
Provavelmente terei que voltar para o aeroporto e embarcar para o Brasil ainda hoje. Liguei para a conhecida e disse que pretendia visitá-la. Contei minha situação a ela. Não podia ser tímida, a situação não permitia. Ela foi direta. Meu marido não vai querer você aqui, mas, tenho um amigo que mora sozinho num hotel e está doente. Acho que ficará contente em recebê-la, se você cozinhar para ele.
Topei na hora. O amigo dela também.
A noite já tinha um lugar para morar, um trabalho cozinheira, outro de baby-siter encaminhado e uma
festa para ir. A festa foi fantástica.
Deus ajuda quem se arrisca a viver com intensidade.
Seis meses depois, terminado o meu visto, voltei com 100 dólares no bolso e muito feliz.

Vale a pena falar da raiva?

A raiva é um sentimento humano que as vezes nos mostra lados desconhecidos de nós mesmos.
Certa vez, chegou um funcionário da Companhia de Energia dizendo que ia cortar minha luz por falta de pagamento. Argumentei que havia pagado e disse-lhe que iria buscar a conta para mostrar-lhe.
E fui. Ao voltar ele disse-me que havia cortado a luz.
Uma fúria assassina me cegou.
Olhei para ele sem ver um ser humano. Na minha frente estava o alvo da fúria.
Se tivesse um revólver naquele momento, teria descarregado-o na cabeça daquele sujeito odioso.
Quando me acalmei, pensei: Meu Deus se o tivesse matado naquele momento de profundo ódio, passaria anos na cadeia por isso.
Atualmente tenho ido ao Presídio Feminino Santana, semanalmente, para passar vídeos sobre "Educação para a Paz" de Prem Rawat na escola do Pavilhão III e na Cela Especial, numa parceria entre a FUNAP e a Associação de Apoio ao Conhecimento e Paz Interior. Depois fazemos uma roda para as expressões, comentários e perguntas das detentas. Prem Rawat desenvolve esse trabalho em muitos presídios em todo o mundo e as estatísticas provam a expressiva diminuição da reincidência entre os presos que participaram desse projeto.
Essas detentas que participam dos encontros, são seres humanos como eu e em alguns casos, pessoas que cometeram algum erro, em algum momento.
Seus depoimentos, depoi de ouvirem a mensagem de Paz e entrarem em contato com seus corações, são cheios de sabedoria e humildade.
É uma experiência motivadora, comovente e cheia de aprendizado.
Posso entende-las perfeitamente.
Não pretendo ter uma arma em casa jamais.

Professora dos infernos

Tinha 9 ou 10 anos e estava na terceira ou quarta série do primário, em Taquaritinga. Era a primeira ou segunda da classe. disputava o primeiro lugar com minha melhor amiga, a Parê.
Certo dia na aula de matemática, a professora, não me lembro de seu nome ou rosto, aproximou-se de um aluno, também não me lembro do rosto e nome e chamou-lhe a atenção.
Quando olhei para eles vi uma cena que jamais vou esquecer.
Ouvi um grito de dor e vi a professora erguendo o pobre menino pelos cabelos.
Quando ele voltou a sentar-se, ela tinha um punhado dos cabelos dele, nas suas malditas mãos.
Fiquei horrorizada e petrificada.. Como se não bastasse chamou o menino para alousa e fez-lhe um teste, sem aviso prévio. colocou na lousa algo como uma soma de digamos 374+208. Ele não conseguiu realizar a equação. Disse-lhe: Você é um burro. Vamos ver até onde você vai. Colocou uma subtração na lousa. 50-40. Ele não conseguiu. Ela então gritou: vamos ver o quanto você é burro. Perguntou-lhe:
Quanto é 2+2?
O menino visívelmente em estado de choque não pode responder a pergunta.
Eu olhava tudo em silêncio, mas pensava com todas as minhas forças: tomara que ela morra. Eu odeio você. Era uma criança, mas percebi que o menino estava apavorado e não saberia responder nem qual era o seu nome.
Claro que a professora também estava fora de si. Mas isso eu não percebi. Percebi que o menino era pobre e sofria uma grande injustiça e humilhação descomunal. Foi  a primeira vez que presenciava um ato de injustiça. Até hoje me pergunto as consequências deste acontecimento na vida daquele menino.
Terá continuado seus estudos? Para mim ficou evidente que o medo, não é a melhor pedagogia. Eu teria voado no pescoço daquela professora e estrangulado-a com minhas próprias mãos, se tivesse coragem. Mas não tive. Permaneci calada e chorei baixinho e escondido para ela não perceber.
Ficou um grito mudo de revolta e indignação preso na minha garganta. As vezes, a cena me volta á cabeça e me pego chorando de novo.
Por isso valorizo tanto a pedagogia do amor. Do elogio.
É difícil aprender pelo medo. mesmo se aprendemos algo, logo nos esquecemos. O medo nos embrutece. Encolhe-nos. Perdemos a alegria de aprender. O aprendizado torna-se árido. Difícil.
Quando aprendemos alguma coisa através do amor, o aprendizado é para sempre.
Nunca nos esquecemos nem do que aprendemos, nem de quem nos ensinou. Ficamos cheios de entusiasmo, determinados e disciplinados. Naturalmente e sem esforço excessivo. Tudo na medida e no tempo certo. O sentimento é de descoberta, gratidão e coragem.

Centro Laban de Dança e Arte do Movimento do Brasil

O Centro Laban foi fundado por nós, alunas de Maria Duschenes, sendo ela membro fundador e honorário.
Fundado em 1987, reuniu especialistas do movimento, que atuavam e ainda atuam nas áreas de educação, coreografia, terapia e teatro.
Tem como objetivo divulgar e promover a teoria e as reflexões da Laban; formar profissionais deste conhecimento; realizar e promover performances, coreografias, danças corais, espetáculos e aulas públicas; estimular a formação de grupos de estudos, debates e pesquisas, simpósios e encontros; introduzir a Arte do Movimento e a Dança Educativa no curriculum escolar, promover a integração da Arte do Movimento com outras artes; promover o intercâmbio com entidades e pessoas que apliquem o Método e Teoria de Laban no Brasil; junto a entidades internacionais.
Em 1998 assumi a presidência do Centro. Nesse período desenvolvia algumas atividades na sala de meu apartamento. Éramos um grupo de alunos formados em Laban, na maioria por mim, professores de música, artes plásticas, atores e psicólogos. Alguns alunos eram de baixa renda e tinham bolsa de estudo. Desenvolvíamos o conceito da Dança Inclusiva. Tivemos o apoio do Governo do Estado de São Paulo - Departamento de Formação Cultural. Tinha pessoas de diferentes formações, renda, cultura e idade. Tínhamos a dança Laban e a construção de um espetáculo " A Linguagem dos Pássaros " em comum. Os alunos negros enriqueceram nossos estudos da dança e cultura brasileira, trazendo a dança africana, o samba, a culinária, a linguagem e a capoeira para nossa sala de aula. Além das aulas e ensaios nos reuníamos para  troca de experiências, com almoças e bate papos. Fazíamos encontros com acompanhamento de uma psicóloga, que melhorava nosso relacionamento, as vezes difícil, pelas diferenças de experiências e linguagens. Registrávamos tudo com uma câmera de vídeo e máquina fotográfica. O grupo permaneceu junto por dez anos e apresentou o espetáculo "A Linguagem dos Pássaros" em diversos lugares como O teatro da FAAP e no Parque da Água Branca. A experiência de vida e visão da cultura brasileira, para mim e acredito para todo o grupo, foi riquíssima. Aprendemos principalmente a arte da convivência e a ética na relação de grupo. A diversidade das pessoas enriqueceu o nosso vacabulário de movimentos. O Centro está sem sede desde que me separei do meu quarto marido e fui morar com minha mãe, depois da morte de meu querido pai. Não há, no momento, um espaço físico para abrigá-lo. Hoje em dia fazemos ensaios e encontros ao ar livre, em parques e espaços públicos.
" Quando a minha mestra da Arte do Movimento e da Paz me solicitou um texto, sobre as minhas impressões de minha paragem junto ao Centro Laban, de imediato, atiço a memória, e nela encontro, um recorte relevante ao meu progresso criativo, psíquico, ético e pessoal. Vale, portanto, recordar a imensidão neste ambiente cultural.
Em seu aconchegante apartamento na Vila Madalena na cidade de São Paulo - Sede do Centro Laban por muitos anos e com a responsabilidade de professora e artista junto a sua Comunidade, ao seu Estado, ao seu País, a dedicação de Solange Arruda surpreende, pois não é comum numa metrópole, tal postura.
Lá neste lugar de grandes experimentações múltiplas, onde a ordem era respirar arte e embarcar na maior das viagens, a da busca pelo conhecimento.
E no infinito de tantas sensações, o nosso Grupo Laban formado por jovens de todas as etnias, de todas as classes sociais, de todas as habilidades pessoais e de todos os lugares do mundo, encontrávamos apoio total, de nossa mestra Sol Arruda, a sus transmissão primeira baseava-se no sensível.
Admito que fiquei impressionada pela espécie de SABERES que naquele lugar singular, o Centro Laban, se abriam, co as chaves da plenitude. Ouso dizer que ali habitat o "sagrado".
Suely Soarres
Vitória - ES

18 de abril de 2012

Reconstrução

Quando pequena já tinha uns apagões de memória. Lembro-me de uma vez estar no meio da rua, com uns 9 anos, em Taquaritinga e pensar: O que estou fazendo aqui? Voltar para casa e minha mãe me perguntar: Trouxe os tomates? Aí sair correndo para comprá-los. Por isso minha estória é feita de fragmentos de memória. Lembro-me de alguns fatos. Aí vão eles:
Casei-me aos 16 anos. Meu marido tinha 19. Éramos colegiais. Fiquei grávida na minha primeira relação, aos 15 anos. Por dois meses escondi a gravidez de todos. Sentia muito medo. Ao mesmo tempo uma total determinação de ter o bebê. Meu marido, namorado, naquele momento, me apoiou. Nós nos amávamos. Não trabalhávamos. Vivíamos, como a maioria dos adolescentes de classe média, de mesada. Um dia, meu namorado e eu decidimos conversar com meus pais. Ele pediu minha mão em casamento. Meus pais ficaram muito contentes, porque ele era um bom rapaz. Meu pai disse: Ótimo, se vocês se amam, podem se casar, daqui a alguns anos. Meu namorado respondeu: Temos que nos casar imediatamente. Aí o clima mudou, ficou tenso. Enfim contamos que eu estava grávida de dois meses. Meus pais ficaram chocados. Como estávamos determinados a nos casarmos, tudo foi arranjado e nos casamos o mais breve possível. Fomos morar com os pais do meu marido. Ele parou de estudar e começou a trabalhar como fotógrafo numa revista. Eu continuei os estudos por mais um ano. Não foi fácil adaptar-me naquela nova família. Lembro-me que não tínhamos o dinheiro para os gastos com o parto. Nasceu minha filha. Tudo era muito complicado e difícil para nós. Aos poucos as coisas foram ficando um pouco mais confortáveis. Meu marido começou a trabalhar em publicidade e ganhar melhor e eu fui estudar dança, como era meu sonho. Minha professora era Maria Duschenes. A primeira escola que minha filha frequentou foi a Quá-Quá. Era uma escola muito considerada, onde os intelectuais punham seus filhos. Mesmo assim, eu queria conhecer de perto a escola e comecei a dar aulas de expressão corporal nela. Minha filha estudou, se minha memória não estiver falhando, dos 3 aos 5 anos lá. Depois eu tive uma discussão com a diretora, saí e tirei minha filha. Quando ela tinha 2 anos, engravidei de novo, desta vez, por que decidimos ter outro filho. Aos 20 anos tinha uma filha de 3 anos e um bebê-menino. Conto a estória, não se esqueçam, como me lembro. Pode ter acontecido de forma diferente. Escolhi a escola Juca Peralta, para dar aulas de dança educativa. Dava aulas para todas as classes. E coloquei meus filhos para estudarem lá. Minha filha com 5 e meu filho com2. Ao mesmo tempo eles estudavam dança numa escola de Laban para crianças. Tinham bolsa de estudo. Depois foram para a escola Vera Cruz, onde estudavam os filhos do Herzog. Ambos fizeram o  primário e ginásio lá. Meu filho fez o curso de teatro com o grupo do Naum, Pode Minoga. E no Vera começou a estudar cinema com Cao Hamburer. Bem, quando minha filha completou 5 anos e meu filho 2, eu e meu marido nos divorciamos. Agora, tinha 23 anos, dois filhos, era divorciada e ganhava pouco como professora. Meus filhos ficaram morando comigo. Meu ex-marido me dava uma pensão e meus pais também ajudavam. Foi uma fase muito tumultuada que durou uns 5 anos. Casei-me novamente e tive meu terceiro filho. Uma filha de 10, um filho do meio de 7 e um bebê. Morávamos todos juntos. 2 anos depois me separei do segundo marido. Divorciada pela segunda vez, com 3 filhos e ganhando pouco como professora e dançarina. Aí vem o apagão de memória. Não me lembro quando me separei dos meus filhos. Se foi quando me separei pela segunda vez ou se quando no ano seguinte, quando sofri o grava acidente de carro, onde quebrei a coluna, fiquei um ano sem andar e com uma sequela permanente. Pé caído. Minha filha foi morar com meus pais. Meu filho do meio com os avós paternos e meu filho caçula morava um pouco com o pai e outro tanto comigo e  meu terceiro marido. Lembrei-me: Quando me separei pela segunda vez, coloquei 1 quarto para alugar e ajudar com as despesas. Meus 2 filhos mais velhos dormiam juntos e o caçula foi morar com o pai. No ano seguinte sofri o acidente e meus filhos foram morar com os avós, como já contei. Tinha 29 anos, uma filha de 12, um filhpo de 9 e outro de 2, que estava comigo no acidente, mas felizmente não se machucou. Ele, o caçula, estudou na Escola da Vila e depois numa escola pública. Depois de um ano, recomecei a andar, mas não reconquistei o convívio com meus dois filhos mais velhos. Ficou subentendido que estariam melhor com os avós. Eu fazia aulas de Tai-Chi-Chuan, o dia inteiro, na tentativa de recuperar meus movimentos. com o estímulo de Maria Duschenes, voltei a dançar. Aluguei 3 quartos, a casa era grande e passei a morar com meu namorado, futuro terceiro marido. A garagem já tinha sido transformada pelo segundo marido numa sala de dança, que eu chamava de escola Isadora Duncan. Em 82 recebi o Conhecimento de Prem Rawat. Comecei a me dedicar muito a Cultura da Paz e a dança. Em 87, meu filho caçula veio morar comigo e voltou a morar como pai em 95, quando me separei do terceiro marido. Em 89 ou 90, meus filhos mais velhos foram morar juntos, num apartamento alugado. Depois se separaram e cada um foi morar sozinho. Atualmente os 3 são casados. Tenho 4 netos, até agora. Minha relação com meus filhos foi truncada muitas vezes e faço um grande esforço para recuperá-la, embora entenda que o que passou, os momentos que não estive com eles, as passagens que perdi, não podem ser recuperadas. Posso imaginar como minha ausência marcou suas vidas, pois sei como os acontecimentos da infância influenciam na formação do ser adulto. Sei também que não posso refazer o passado. Espero que meu amor seja tão grande que possa nos proporcionar dias felizes, no tempo presente. Sinto que sou amada pelos meus filhos, apesar de sentirem uma mágoa pelo abandono. Que esse amor correspondido supere todas as mágoas do passado. Temos que aproveitar o tempo e compensar o tempo perdido. Não temos tempo a perder. Vivamos o presente plenamente! O presente é o que temos. O passado não pode ser mexido. No presente podemos tudo. O futuro a deus pertence. Aqui e agora. Este é o momento para nos relacionarmos.
Filhos: EU AMO VOCÊS!!!

Sono

Sem sono, lendo Henry Miller ha horas, tentando acompanhar suas enxurradas de palavras inebriantes, bocas cósmicas, gargalhantes, histéricas, fedorentas, aveludadas que mordem, sussurram, falam, vomitam escatológicamente, martelam, perfuram, assobiam, murcham e morrem de tédio e mesmo assim encontrar Deus entre os judeus, chineses, índios americanos extintos, búfalos extintos e no meio da terra, apesar da escuridão ver a luz do self.  Nas ruas de Nova York, sujas, no meio do lixo encantar-se com uma folha de couve e ver nela a natureza e a beleza da vida. Exccluída, exilada, extra-terrestre, semi-deus, satanás, monstro, mas generosa, solidária, solitária, única, morrendo de rir e de dor, rindo muito, sem motivo, gargalhando, cuspindo, coçando, se torcendo feito uma enguia, criando asas e voando acima das cabeças de homens-formigas, homens-coelhos, homens-rãs, mulheres judias, chinesas, de outros mundos, de Marte, de Saturno, da lua, mulher-sol, mulher-boca, mulher-mineral,mulher-vegetal, lésbicas e bichas, eu e minha solidão,, chorando feito criança, sem par, única, livre como um pássaro, sem se importar  com o medo ou a morte, com o ego morto, renascida numa vida de sonho, limpa, sem memória de dinheiro e trabalho, divertindo-se com as pérolas e conchas e estrelas, contando as estrelas e sentindo a pele, os ossos, olhando com olhos de recém nascida, tudo é novo, tudo é vivo, descobrindo, cheirando, fugindo do mundo do dinheiro e do trabalho, caindo na diversão, na alegria de estar viva, sem um tostão no bolso,sonhando acordada, Escrevendo 5.000 páginas por dia, 500.000 palavras por hora, não importa se sem sentido, como uma convulsão, compulsão, histeria, apenas para afastar a insônia. Palavras que consolem, façam companhia, aqueçam, embriaguem, amorteçam, abracem,escorram, torçam, empurrem, esvoacem, batam, soquem ou dancem ou chorem ou gritem ou gargalhem ou morram ou matem. Palavras que comovam, esclareçam,  dêem esperança, sem se esquecer das bocas cósmicas. Verbo. Movimento. Vida. Criação. Arte. Perfume. O mal-cheiro do mundo para fincar o pé no chão e não sair voando sem direção, sem rumo, em direção contrária ao mundo, em direção a casa, ao aconchego do útero, dentro do self. Juntando  pedaços soltos, fantasias, invenções, obsessões, sonhos, devaneios, delírios, desejos, frações de vida, lutando desesperadamente para dar sentido ao caos, perceber o padrão, a ordem. Sem se esquecer do nome, do néctar, do som e da luz. Sem se esquecer de viver cada segundo como se fosse o último, a última foda, a última gota, o último alento e depois dormir esonhar. Na borda do vácuo ver a Verdade. Viver uma realidade melhor que o sonho. Numa farra de bruxas loucas e no princípio era o Verbo, o movimento. As palavras se calam. Silêncio. Noite.
Sono.

Sonho

A casa fica numa praia, areia e espuma brancas. Na sala principal dançam minha filha e meu filho mais velho. belo casal, dançando uma espécie de tango. Estão separados, mas, gesticulam, gritam e rodopiam. Entra um rapaz e me convida para dançar. dançamos a mesma dança. Estou em frente de minha filha, agora pequena, com uns cinco anos de idade. Ela me diz algo e eu retruco: Sou sua mãe. Para tê-la tive que ir contra tudo e todos. Estamos na praia. Ao longe vemos minha mãe caminhando de costas na direção oposta. Ela chega até nós e pergunta: Tudo bem? Dizemos juntas: Tudo bem.
De volta a casa. Estou andando abraçada com meu filho mais velho. Em seguida estou com o mais novo. Subimos escadas. Andamos abraçados. Eu te amo, ele me diz.

Sonho

Saímos, eu e minha amiga, de um bar e entramos em outro. Demos uma olhada. Nada de interessante, ou melhor, ninguém interessante.
Decidimosir tentar outro lugar. Saindo, reparo em um homem ruivo, provavelmente um músico, com um violão no colo. aproximo-me dele e começamos a conversar, com muita facilidade, como se nos conhecêssemos. Digo-lhe que estou procurando um lugar para praticar minha dança. Pergunto-lhe se é músico. Ele diz que sim. Observo que ele não é muito bonito, mas muito comunicativo. Ele é ligeiramente calvo atrás. Ele diz que gostaria de tocar para eu dançar e sugere que estude minha dança neste lugar, em outro horário. Continuamos a conversar longamente.
Beijamo-nos.
Vamos para outra sala vazia e pegamos papéis do bar, para trocarmos endereços. Os papéis estavam com os endereços do bar e não dava para anotar nada. Pergunto-lhe se tem algum pedaço de papel. Ele retira da mochila um caderno. Abro-o e reparo que são exercícios de matemática. Leio no cabeçalho da página: Terceiro ano. Reconheço os exercícios, realmente são do Terceiro ginasial. Fico um pouco confusa e pergunto-lhe o que significa aqueles exeecícios e o Terceiro ginasial. Ele me diz que está no Terceiro ginasial. Levo um susto e pergunto-lhe quantos anos tem.
13, responde.
Olho novamente para ele e vejo um adolescente na minha frente.
Penso: Meu Deus, isso dá cadeia. Será que posso pedir autorizaçaõ para s mãe dele?