AN- No começo, quando a gente era criancinha, Dona Maria dava umas dancinhas, tinha uma roupinha que era um casquetinho com um laço enorme atrás, uma sainha-preguiada xadrez, tipo bem austríaca. Era muito engraçada! Ela dava umas coreografias e, depois, ela deu umas coisas renascentistas pra vocês, mais velhas, junto comigo... Não?
C- Não, a gente fêz uma dancinha de tamanquinho e outra dos marinheiros,que eram danças folclóricas francesas.Ela dizia que as danças francesas eram as mais leves e combinavam com o corpo e movimento dos brasileiros.
AN- Ela também ensinou dança renascentista, que ela chamava, então eram coreografias mesmo, dança de côrte.
S- Agora... eu lembro que quando a gente improvisava ela estava vendo, assistindo. Eu lembro que eu dançava muito pra ela, pensando no fato de ela estar vendo e, quando terminava, era como – Uau! O que ela vai falar?! Porque ela dizia algumas palavras... não eram objetivas, eram palavras poéticas sobre o que tinha acontecido! Então, eu lembro que no final da aula a gente ficava com o ouvido atento. Qualquer coisa que ela dizia me encantava! Nunca a vi ela criticar objetivamente, mas ela sempre estava elogiando o de que ela gostava mais. A gente percebia que o que ela não citava era por que ela não tinha gostado.
AN- É verdade. Dona-Maria tinha essa tática: ela nunca dizia um “não” ela dizia “sim”. Eu acho que essa mulher foi esperta, didaticamente.
S- Didática extraordinária de elogiar.
AN- Você tem razão. O que ela não mencionava é por que ela não tinha gostado. Engraçado isso. E se você perguntava ela respondia.
S- Respondia. E eu lembro que essa didática do elogio eu apliquei na minha vida, nos meus filhos. e eu funciono muito melhor com elogio do que com crítica. Eu sou assim até hoje.
AN- Mas você sabe que eu nunca fiquei sem improvisar, só olhando. Quando eu comecei a improvisar eu nem me interessava se ela estava vendo ou não. Por exemplo... Engraçado...eu lembro a minha irmã... é uma coisa assim na hora que eu improvisava. Você sabe que, na hora ,eu era tão estranha, eu acabava de improvisar eu deitava, olhava para o teto, eu não estava nem aí. Não me interessava. Era como se eu soubesse que estava bom ou ruim. Então tinha coisa de que ela não falava nada e eu mesma achava que estava ruim. E eu, sozinha, ia repetir. Estranho, não é? Uma coisa estranha!
C – Quando eu iniciei as aulas com Dona Maria,ela achou que eu tinha talento para ensinar crianças.Ela direcionou meu estudopara esta área, e depois , como profissional, ela me indicou para muitos alunos.Ela nunca me impôs a maneira que ela ensinava.Eu fazia com ela , aulas de improvisação e técnica, como bailarina;e, como professora, criei um método que une todas as minhas experiências em dança de caráter, ballet e Laban. Eu já ensinei mais de 2.000 pessoas e muitas ficaram comigo durante anos. Ela confiava em mim e tinha a resposta positiva dos meus alunos.
26 de julho de 2008
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