Maria Duschenes - O Espaço do Movimento - por Inês Bogéa
Maria Duschenes pôs sua arte e suas ideias a serviço da dança no Brasil. Ela faz parte de uma turma de estrangeiros que chegou ao país no entre guerras, com ideias novas e informações para partilhar, gerando um movimento de transformação da dança local " Com a dança a gente fala com o mundo " gostava de dizer. Duschenes introduziu no Brasil os métodos de Emile Jaques Dalcrose ( 1865 - 1950 ) e Rudolf Laban ( 1879 - 1950 ), tecendo fios que adensaram o meio artístico, inter-relacionando as artes e acentuando sempre a ligação do corpo com o intelecto. A afirmação de uma técnica que coloca a dança à disposição de todos, o abandono de formas fixas e corpos padronizados, e o entendimento de que o corpo é fundamental nas atividades intelectuais fazem da presença de Duschenes um verdadeiro pólo transformador da dança paulista. Tudo isso feito singelamente, decantando o tempo da educação, à espera da resposta, do olhar, da cumplicidade e parceria do outro para se fortalecer no mundo.
Baseada no princípio holístico da unidade corpo/espírito, ela introduziu uma dimensão psicológica em suas técnicas somáticas. Como diz " A dança em si, isolada, não é suficiente como fator de integração entre corpo e mente e recuperação da identidade, pois a linguagem não-verbal constitui só uma parte de nossas linguagens. Porém, ela serve de ponte de ligação, integrando às outras linguagens verbais, escritas, visuais, etc ". Duschenes partilhava, com seus mestres, do conceito de que a dança não deveria ser propriamente um trabalho em busca da perfeição, mas sim uma interrogação do espaço, de sua estrutura e suas possibilidades. Relutava, assim, em produzir uma formalização marcada por gestos, mais interessada nas diferenças e identidades que podem surgir de cada um. Para ela, a expressão corporal pode ser tanto um meio de preparação do corpo do artista cênico, ampliando sua capacidade de entendimento e expressão, quanto uma prática comum a todos, com a finalidade da percepção individual.
Uma grande professora, chamada carinhosamente, por seus alunos, até hoje, de dona Maria, procurou trabalhar com as pessoas por meio da dança e não apenas para a dança. Ou seja, dança e movimento como formas de reconhecer o espaço e de harmonizar a personalidade subjetiva interna e a personalidade externa, física.
31 de agosto de 2011
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